Mitos relacionados com a sexualidade

A palavra mito provem do latim “mithós” e consiste numa narrativa com carácter simbólico que procura explicar a realidade (fenómenos naturais, as origens do mundo e do Homem, etc.) recorrendo ao uso de deuses, semi-deuses e heróis, estando associada a uma determinada cultura. No entanto esta palavra surge também associadas às ideias/crenças populares existentes numa determinada sociedade mas que não têm fundamento científico, apesar de amplamente aceites pela população. No que toca ao sexo e sexualidade em geral existem imensos mitos, sendo alguns mais aceites que outros, sendo que alguns, devido à sua ampla aceitação como verdade, chegam mesmo a interferir negativamente na vida sexual dos indivíduos. Desta forma achamos importante tratar este tema. No entanto, devido à grande abundância de mitos e à escassez de tempo, decidimos tratar apenas alguns, aqueles que consideramos mais importantes. Os mitos seguintes são, tal como referido anteriormente, os que consideramos mais importante abordar, seguindo-se uma breve explicação relativa a estes.

Mitos:

A – Os homens são mais promíscuos que as mulheres.

Mito: Apesar de poder mais incomodo para algumas mulheres serem honestas relativamente à sua vida sexual, uma vez serem mais sensíveis às expectativas e criticas sócias relativas ao seu comportamento, existem estudos feitos pelo professor de Psicologia da Universidade Estatal de Ohio, Terri Fisher, em cooperação com o professor assistente de psicologia na Universidade do Maine, Michele Alexander, publicado no “The Journal of Sex Research”, que sugere que as mulheres podem ser tão ou até mais promiscuas que os homens.


B – As mulheres não se excitam com material erótico.

Mito: Existe um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Washington que consistiu em medir as alterações corporais de homens e mulheres enquanto estes visualizavam imagens eróticas e não eróticas, que sugere que as mulheres também gostam de erotismo: quando eram apresentadas imagens eróticas de casais parcialmente vestidos ou completamente nus as suas reacções eram semelhantes às dos homens, levando-nos a concluir que as mulheres, à semelhança dos homens, também apreciam material erótico.


C – Beber suma de fruta pode melhorar o sabor do esperma.

Verdade: O sémen, tal como todas as secreções do corpo, é afectado pelo que o indivíduo consome. Desta forma, e apesar de não existirem garantias de que resulte, beber sumo de fruta ou comer fruta pode melhorar o sabor do esperma uma vez que estes alimentos ao serem ricos em açucares naturais, como a frutose (constituinte abundante do esperma), vão de certa forma balançar o sabor amargo e salgado de que muitos parceiros se queixam.


D – Os homens pensam em sexo a cada 7 segundos.

Mito: Apesar de existirem estudos realizados, por exemplo, pelo Instituto Kinsey que sugerem que os homens e mulheres, apesar de que as ultimas em menor escala, pensam bastante em sexo, desde uma vez por mês a várias vezes ao dia, não era possível desenvolver qualquer tipo de actividade se a cada 7 segundos a mente dos homens pensasse em sexo, não seria possível sequer pensar em qualquer outra coisa!


E – A maioria dos orgasmos da mulher são durante o coito.

Mito: Ao contrário do que se pensa, a maioria dos orgasmos femininos não ocorre durante o coito. De facto, segundo o Dr. Elisabeth A. Lloyd, professor na Universidade de Indiana e autor do livro "O caso do Orgasmo Feminino: Sesgo na ciência da evolução", apenas uma pequena percentagem de orgasmos femininos ocorre durante o coito, sendo que a estimulação do clítoris durante o acto sexual aumenta exponencialmente a possibilidade de orgasmo, uma vez que este órgão tem como finalidade única proporcionar prazer sexual à mulher.


F – O homem está sempre pronto e apto para o sexo.

Mito: Apesar de esta ser a opinião geral, não corresponde à verdade. Sabe-se, por exemplo, que durante a juventude a duração do período refractário* do homem é menor, o que lhe permite estar “pronto” para o sexo mais rapidamente e também que à medida que envelhece a duração desta fase tende a aumentar, o que irá afectar a “disponibilidade” do homem para o sexo. Sabe-se também que com o aumento da idade o “apetite” sexual tende a diminuir e que as erecções são mais frequentes durante a manha, variando aleatoriamente durante o dia. Os problemas pessoais, familiares ou relacionadas com o trabalho/carreira têm, também, um grande impacto sobre o homem, podendo deixa-lo mais exausto, diminuindo, assim, o seu “apetite”. Como tal, podemos ver que existem diversas razões que levam o homem a não estar “pronto” para o sexo, sejam elas físicas ou psicológicas.


G – Existem exercícios para aumentar o pénis.

Mito: Não existem exercícios reconhecidos para o aumento do tamanho do pénis, existindo, no entanto, uma operação de aumento do pénis, sendo bastante delicada e com um tempo de recuperação longo e doloroso pelo que apenas é aconselhada a homens cuja erecção não chega aos 7 cm.


H – Todas as mulheres sangram quando perdem a virgindade.

Mito: Apesar de ser normal o sangramento aquando da primeira relação sexual devido ao rompimento do hímen, nem todas as mulheres sangram uma vez que nem todas as mulheres são iguais nem todas as “primeiras vezes” ocorrem nas mesmas situações.


I – Interromper o coito é seguro para evitar a gravidez.

Mito: Mesmo antes da ejaculação existe a libertação de alguns espermatozóides, apesar de em baixo número juntamente com as secreções das glândulas anexas, os quais poderão fecundar o óvulo caso tenha ocorrido ovulação.


J – Falhar a erecção significa falta de interesse ou desejo.

Mito: Existem inúmeras razões para o homem falhar a erecção, sendo as mais frequentes e normais o medo e/ou ansiedade gerados pela expectativa da prática sexual, pela própria possibilidade de falhar a erecção ou mesmo a preocupação em satisfazer o parceiro. Apesar de menos frequente, o homem pode também falhar a erecção devido a problemas físicos como, por exemplo, a disfunção eréctil.


K – A satisfação sexual da mulher depende do tamanho do pénis.

Mito: Talvez um dos mitos mais importantes e aceites como verdade pela população em geral, o tamanho do pénis não tem grande importância na satisfação sexual da mulher. De facto apenas o terço anterior da vagina possui terminações nervosas, o chamado “Ponto G”. Este, por se encontrar na “entrada” da vagina, pode ser estimulado mesmo por um pénis de pequenas dimensões, pelo que o tamanho do pénis não tem grande influência na satisfação sexual da mulher.


L – Os homens negros têm pénis maiores.

Verdade: Existem estudos estatísticos que revelaram que os tamanhos médios dos pénis de homens negros são de cerca de 18 cm, de caucasianos de 15 cm e dos asiáticos de 10 a 13 cm. Desta forma podemos concluir que os homens negros têm, regra geral, os pénis maiores, sendo, também, mais grossos.


M – A mulher demora mais a atingir o orgasmo que o homem.

Mito: É possível para a mulher atingir o orgasmo sem a necessidade de penetração. Durante os preliminares caso o clítoris, em especial, ou qualquer outra parte erógena do corpo da mulher seja estimulada da forma correcta pode provocar um orgasmo. Desta forma a mulher atinge o orgasmo antes do coito, quando, regra geral, o homem experiência o seu orgasmo (normalmente simultâneo com a ejaculação).


N – Quando o homem ejacula termina a relação sexual.

Mito: Apesar de após a ejaculação a erecção tenha tendência a diminuir de intensidade ou mesmo desaparecer devido à existência da fase de resolução**, é possível, por meio de técnicas de estimulação adequadas, manter a erecção durante bastante tempo. No caso da impossibilidade em manter a erecção durante esta fase é sempre possível manter a relação sexual recorrendo a técnicas de estimulação corporal mútuas, retomando depois da retomada da erecção o coito.


O – Um homem está sempre disposto a ter relações sexuais.

Mito: Existem muitos factores que podem fazer com que o homem não esteja disponível para o sexo, como por exemplo o stress originado pela carreira, problemas pessoais ou familiares, etc. Portanto, nem sempre o homem se encontra psicologicamente preparado nem motivado para iniciar uma relação sexual.


P – Na primeira relação não existem possibilidades de engravidar.

Mito: Um mito particularmente perigoso uma vez poder originar gravidezes indesejadas. A primeira relação sexual é como qualquer outra no que toca à possibilidade de engravidar: caso o hímen seja rompido e o homem ejacule no interior da vagina existe a possibilidade de gravidez.


Q – Ter relações durante a menstruação não é saudável.

Mito: Sexo durante a menstruação desde que praticado entre pessoas saudáveis não acarreta qualquer tipo de risco de infecção ou doença, ao contrario do que a população acredita. No entanto, as contracções uterinas que ocorrem aquando do orgasmo podem aumentar o sangramento após a relação. No caso de a mulher ser portadora de uma IST os riscos de transmissão destas aumentam significativamente com a presença de sangue.


R – Quando alguém se masturba demais é porque alguma coisa está errada na sua vida sexual ou porque o seu parceiro não o satisfaz.

Mito: A masturbação é um comportamento perfeitamente normal e que permite ao jovens descobrirem novas formas de proporcionarem prazer a eles mesmos, descobrindo o seu corpo e preparando-se para a relação sexual com um parceiro. Quando um individuo se masturba mesmo tendo uma vida sexual activa não significa que esteja insatisfeito com o parceiro, apenas que aprecia o acto de se masturbar, de proporcionar prazer a si próprio, descobrindo novas e melhores formas de o fazer o que pode melhorar a sua vida sexual com o seu parceiro.


S – A masturbação causa doenças graves como infertilidade, disfunção eréctil, acne.

Mito: Não existe qualquer tipo de relação entre a prática de masturbação e as doenças acima mencionadas.


T – É errado ter fantasias sexuais.

Mito: As fantasias são uma parte importante da nossa sexualidade e não devemos exclui-las. As fantasias consistem em desejos sexuais reprimidos pela crença de serem errados. No entanto estes podem melhorar a vida sexual do casal, devendo, portanto, ser explorados sem receios, respeitando sempre as vontades e limites do parceiro.


U – A quantidade de vezes que se tem relações sexuais é mais importante que a qualidade.

Mito: Contrariamente geralmente aceite, a qualidade das relações é mais importante que a quantidade com que estas ocorrem uma vez nos sentirmos muito mais satisfeitos sexualmente quando temos uma relação sexual com qualidade, quando, por exemplo, esta acontece com um parceiro que conhece os nossos gostos/preferências sexuais, que conhece os estímulos que mais nos proporcionam prazer, do que quando estas ocorrem de forma frequente mas com pouco qualidade, por exemplo, com múltiplos parceiros, os quais não conhecem as nossas preferências sexuais e, portanto, não nos irão proporcionar tanto prazer.

Notas:

**Fase de resolução e *período refractário:

Em 1970, William Masters e Virginia Johnson, sexólogos de renome, após efectuarem extensivos estudos sobre o tema, apresentaram o modelo da “resposta sexual humana”, o qual procura esquematizar a forma como ocorre a resposta do ser humano a um estímulo sexual.

Este encontra-se dividido em 4 fases: fase de excitação, fase de meseta, fase do orgasmo e fase de resolução.

- Fase de excitação: corresponde à estimulação psicológica e/ou fisiológica para o acto. Caracteriza-se pela lubrificação vaginal na mulher e erecção do pénis no homem.

- Fase de meseta/platô: as manifestações estabelecidas na fase anterior ainda persistem, devido ao facto de a estimulação erótica ainda se manter.

- Fase de orgasmo: corresponde ao clímax da resposta sexual, durante o qual existe uma enorme sensação de prazer. Nos homens é representada pela ejaculação.

- Fase de resolução: é um estado subjectivo de bem-estar que se segue ao orgasmo, no qual predomina o relaxamento muscular, a lassidão e certo torpor. Tem duração de minutos a horas. Nos homens, caracteriza-se por um período refractário no qual o organismo necessita estar em repouso, perdendo-se de forma parcial ou total a erecção. Esta perda ocorre em duas fases: a primeira, muito rápida, em que se perde metade da erecção, e a segunda, mais lenta, em que se perde gradualmente a erecção, sendo possível manter um erecção parcial mediante os estímulos certos.

- Período refractário: espaço de tempo de duração muito variável em que não é possível produzir uma nova ejaculação, mesmo quando o estímulo sexual se mantenha.

Conclusão:

   Apesar da sociedade em que vivemos estar cada vez mais evoluída quer cientifica quer tecnologicamente existem ainda muitos mitos e tabus relativos ao sexo e à sexualidade em geral sem qualquer tipo de fundamento. São apenas crenças transmitidas de geração em geração e que incutem ideias por vezes completamente erradas, afectando negativamente a nossa vida sexual.
   Desta forma é importante ter uma mente aberta e não ter medo em procurar ajuda profissional quando temos dúvidas em relação a alguma coisa, pois podemos estar a prejudicar a nossa felicidade sem qualquer tipo de razão valida para o fazer!